Museu realiza a manutenção da fachada da Estação da Luz

Em entrevista à coluna Alice Ferraz, do jornal O Estado de S.Paulo, Renata Motta, diretora executiva do IDBrasil, explica o trabalho de conservação da sede do Museu. Reformas não impactarão a visita do público

O Museu da Língua Portuguesa vai iniciar obras de manutenção da fachada da Estação da Luz. Será o primeiro trabalho de conservação do histórico prédio desde a reabertura da instituição, em julho de 2021. Em entrevista à coluna Alice Ferraz, do jornal O Estado de S.Paulo, Renata Motta, diretora executiva do IDBrasil, organização social responsável pela gestão do Museu, falou sobre os detalhes deste trabalho. Confira a íntegra da entrevista abaixo.

O que motivou o início desse processo de conservação agora, quatro anos após a abertura do museu? 

Toda edificação passa por um processo natural de desgaste dos materiais, devido à combinação de fatores ambientais, a exposição a substâncias químicas e poluentes e do seu próprio uso. Embora haja manutenção cotidiana, alguns problemas demandam intervenções corretivas ou ocorrem em locais de difícil acesso. Por isso, em 2020, quando o Museu ainda nem tinha sido reinaugurado, já colocamos no nosso planejamento realizar um projeto de conservação no horizonte de cinco anos. Esta é a temporalidade correta para garantir a integridade do patrimônio, pensando que adiá-la implicaria em obras mais complexas e custos muito maiores no futuro. Felizmente, contamos com a parceria da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo de São Paulo, que nos permitiu constituir um fundo de reserva para esta finalidade, o que garantiu um aporte inicial, e alavancou patrocínios via Lei Rouanet de empresas como a Motiva e a Petrobras. 

 

O incêndio que atingiu o local serviu como um aprendizado em relação ao cuidado com o Museu e a preservação da memória do patrimônio? 

Sim, sem dúvida. Na época do incêndio, a legislação não exigia a instalação de sprinklers (chuveiros) e os órgãos do patrimônio consideravam uma interferência que poderia descaracterizar o bem cultural; no restauro, eles foram incluídos no projeto. Houve um grande esforço conjunto com CPTM e Metrô para emissão do AVCB de todo o edifício, o que foi uma grande conquista para todos. Mas é importante pontuar também que, apesar da tragédia, o Museu da Língua Portuguesa já adotava medidas de mitigação que eram – e ainda são – incomuns na maior parte dos museus brasileiros: o alarme de incêndio e a equipe treinada, o que garantiu o rápido abandono do prédio, backups de todo o acervo digital e audiovisual e uma apólice de seguro que garantiu quase metade do valor empregado no processo de reconstrução. Acho que fica a lição de que medidas preventivas como esta são fundamentais para a segurança das pessoas e uma rápida recuperação do patrimônio e, claro, a importância de investimento contínuo em medidas de prevenção e combate incêndio. 

Quando deve começar e quanto tempo deve durar a intervenção e como será feita para minimizar impactos no funcionamento do museu? 

As obras devem começar entre final de agosto e começo de setembro – estamos dependendo apenas da autorização para instalar um tapume em parte da calçada  –com estimativa de conclusão em dezembro. Justamente porque estamos realizando a intervenção agora, em vez de daqui a 10 ou 20 anos, não haverá impacto algum para os visitantes do museu ou usuários da Estação da Luz. Os serviços na área externa serão feitos com alpinistas, sem necessidade de cercar a edificação inteira com andaimes. Tirando essa parte pequena que será cercada com tapume – e que não afeta nenhum acesso –, eu diria que a maior parte das pessoas nem vai perceber que tem uma obra acontecendo.  

Qual é a importância de preservar a fachada e as coberturas para a identidade da instituição?  

O Museu da Língua Portuguesa nasceu em 2006 do desejo de transformar a Estação da Luz em um equipamento cultural, reconhecendo a importância do edifício para a história e a paisagem de São Paulo. A ideia era transformar esse grande cruzamento de pessoas que a estação de trem proporciona em um lugar para pensar o português do Brasil como essa língua feita do cruzamento de tantas culturas, identidades e realidades sociais. A Estação é a casa do Museu, e o Museu se tornou a alma da Estação.  

A conservação traz também um simbolismo de renovação? 

De certa forma, sim. Mas eu diria que é uma renovação na forma como enxergamos e cuidamos do nosso patrimônio histórico por meio de decisões de gestão que viabilizam a sua conservação no tempo certo, com a disponibilização dos recursos necessários, sem esperar que se chegue ao ponto de ficar visivelmente precário e precisar interditar para que se faça algo. Será uma intervenção quase invisível para os olhos leigos, mas é a mais importante de todas para a preservação do patrimônio, da memória e da história, de maneira responsável e sustentável, garantindo que cheguem às futuras gerações.  

Durante este período de obras, serão realizadas atividades com estudantes de arquitetura. Como surgiu essa ideia e por quê? 

Por conta dessa ligação simbiótica com o edifício, desde antes do incêndio o Museu da Língua Portuguesa já realizava visitas mediadas em que nossos educadores passeiam com os visitantes contando a história e mostrando detalhes do prédio. Durante a reconstrução, fizemos isso na Jornada do Patrimônio com as obras ainda em andamento. Em vez dos educadores, a mediação foi feita por profissionais que estavam atuando no restauro – e foi um grande sucesso. Desta vez, queremos dar a oportunidade a estudantes de arquitetura, que terão a rara chance de observar a intervenção acontecendo e conversar com as pessoas envolvidas nela.   

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